O Navio Negreiro
Castro Alves
Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
Negras
mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!
E
ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...
Presa
nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!
No
entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."
E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...
Um tema bem interessante a ser passado para os alunos é a
terceira fase do Romantismo brasileiro, que tem como destaque o poema ``Navio
Negreiro`` de Castro Alves. Esse poema demonstra as condições que os africanos
eram transportados para o Brasil, para serem mercadorias do tráfico negreiro. A
terceira fase, fortemente influenciada pelas obras de Lamartine e Victor Hugo, não se voltava para uma
linguagem mais egocêntrica e o mundo interior, tematizada na segunda fase mas
era voltada para a realidade que rodeava o narrador. Tanto é isso que a sua temática é buscar as origens do
desajuste do homem em seu meio e nas lutas entre os fracos e fortes, a mulher e
o amor tem olhares carnais, tendo uma visão mais concreta de tudo. O poema
falado, com o tom de voz mais grave e a declamação de um discurso dramático, dá
a ideia de como os alunos podem imaginar não só a viagem dos africanos, também
podem imaginar as condições que a
escravidão no Brasil trazia-os.
´´ O poeta derramando sempre uma lágrima sobre as dores do
mundo``
Manuel Bandeira falando sobre Castro Alves.
Beatriz Kurashima
Beatriz Kurashima