Páginas

domingo, 3 de junho de 2012

O Romantismo Social de Castro Alves em `` O Navio Negreiro´´




O Navio Negreiro

Castro Alves

Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar... 

Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs! 

E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais... 

Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri! 

No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..." 

E ri-se a orquestra irônica, estridente. . . 

E da ronda fantástica a serpente 

          Faz doudas espirais... 

Qual um sonho dantesco as sombras voam!... 

Gritos, ais, maldições, preces ressoam! 

          E ri-se Satanás!...  

 

Um tema bem interessante a ser passado para os alunos é a terceira fase do Romantismo brasileiro, que tem como destaque o poema ``Navio Negreiro`` de Castro Alves. Esse poema demonstra as condições que os africanos eram transportados para o Brasil, para serem mercadorias do tráfico negreiro. A terceira fase, fortemente influenciada pelas obras de Lamartine  e Victor Hugo, não se voltava para uma linguagem mais egocêntrica e o mundo interior, tematizada na segunda fase mas era voltada para a realidade que rodeava o narrador. Tanto é isso que  a sua temática é buscar as origens do desajuste do homem em seu meio e nas lutas entre os fracos e fortes, a mulher e o amor tem olhares carnais, tendo uma visão mais concreta de tudo. O poema falado, com o tom de voz mais grave e a declamação de um discurso dramático, dá a ideia de como os alunos podem imaginar não só a viagem dos africanos, também podem  imaginar as condições que a escravidão no Brasil trazia-os.

´´ O poeta derramando sempre uma lágrima sobre as dores do mundo``

Manuel Bandeira falando sobre Castro Alves.



Beatriz Kurashima

 


Nenhum comentário:

Postar um comentário